São mulheres poderosas, influentes e vencedoras, e chegaram onde estão apesar do preconceito e da patrulha moralista que sofreram — e que, como sempre se dá, não aconteceria se fossem homens.
São as primeiras-ministras da Islândia, Jóhanna Sigurðardóttir, 69 anos e aparência de bem menos, da Austrália, Julia Gillard, 50 anos, e da Dinamarca, Helle Thorning-Schmidt, 44 anos.
Sobre Helle e Julia já comentei anteriormente, mas vale relembrar.
Carinho e suposto “flerte” com Obama
O nome de Julia percorreu as colunas de fofocas do mundo todo por sua recente recepção calorosa ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama. Julgaram excessiva sua atenção e carinho para com Obama, quase como se flertasse com o presidente.
A primeira-ministra da riquíssima Austrália é uma bem apanhada ruiva de 50 anos, solteira por convicção, sem filhos pela mesma razão, e, num país conservador nos costumes, desinibida e autoconfiante a ponto de ter chegado ao poder em junho do ano passado sem tomar conhecimento da patrulha moralista contra si pelo fato de, sem casar, morar com o namorado, o empresário do ramo imobiliário Tim Matthieson.
Antes de Matthieson, e até onde se sabe, ela já havia tido casos, como deputada e ministra, com dois líderes sindicais e um deputado, como ela.
É advogada, a primeira mulher a governar a Austrália e, curiosamente, nascida no País de Gales, no Reino Unido.
O grave pecado de ser bonita
Já Helle, ainda que vivendo num país liberal como a Dinamarca, sofreu e ainda é alvo de uma discriminação um tanto às avessas pela gravíssima falta de, num partido como o seu, o Social Democrata, dominado por chefões sindicais e políticos veteranos, todos homens, ser tida comobonita e elegante demais para uma legenda que ainda se considera “operária” – daí os apelidos pejorativos de “Gucci Helle” ou de “Gucci Vermelha”.
Formada em Ciências Políticas, bela, alta, loura, olhos de um azul-turquesa luminoso, alguém que não sai de casa sem maquiagem, roupas impecáveis e sapatos de saltos altíssimos, sempre foi uma raridade entre os social-democratas dinamarqueses, e mesmo assim foi galgando degrau por egrau até chegar ao comando do partido, há cinco anos, e à chefia do governo, em setembro passado.
Helle não é nada convencional. Casou-se somente depois de um período de coabitação com o namorado, ademais um estrangeiro – o inglês Stephen Kinnock, filho do ex-líder trabalhista Neil Kinnock, que conheceu em Brüges, na Bélgica, onde ambos faziam mestrado no College of Europe, instituto de altos estudos europeus.
O casal tem duas filhas, mas Stephen, formado em diferentes disciplinas em Cambridge e no College of Europe, vive em Genebra, onde é um dos diretores do Fórum Econômico Mundial, e só passa os fins de semana em Copenhague com a família.
Helle, naturalmente, vive em Copenhague.
A primeira lésbica a governar um país
Jóhanna, da Islândia, foi a que enfrentou mais barreiras, vencendo todas.
Não tem curso superior, foi aeromoça – profissão digna e respeitável, mas nem sempre vista com bons olhos por conseradores – e é lésbica. A primeira mulher homossexual a governar qualquer país.
Para horror dos conservadores, ela era casada, teve dois filhos, hoje com 39 e 36 anos, e desde 2002 vive em união civil estável com a escritora e teatróloga Jónina Leósdottir, com quem se casou, sendo primeira-ministra, no ano passado, depois que o país adotou o casamento também para pessoas do mesmo sexo.
Antes de governar o país, o que faz desde o começo de 2009, foi dirigente sindical e reeleita oito vezes para oAlthing, o Parlamento.
Por curiosidade, num momento em que uma maré conservadora e liberal governa a maioria dos países desenvolvidos, as três são de centro-esquerda: Helle, como se viu, é social-democrata, tal como Jóhanna, e Julia lidera o Partido Trabalhista.
0 Respostas to “A patrulha e o preconceito não venceram essas três mulheres, que hoje governam seus países”